À minha Avó

Eu sempre preferi pensar na saudade como algo belo.

Aquela parte de mim

que escolhe enxergar o copo meio cheio,

nunca meio vazio... a morte é onde mora a saudade...
Cecília Meireles sentia e descrevia algo parecido:

"E eu fico a imaginar se depois de muito navegar
a algum lugar enfim se chega...
O que será, talvez, até mais triste.
Nem barcas, nem gaivotas.
Apenas sobre humanas companhias...
Com que tristeza o horizonte avisto,
aproximado e sem recurso.
Que pena a vida ser só isto...”

Há dores que fazem sentdido, como a do parto:eis que uma vida nova vem ao mundo..
Mas há dores que não fazem poha de sentido nenhum.
Sua avó morreu sofrendo uma dor inútil.
Qual foi o ganho humano?
Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico,
que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava;
costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.
Mas tenho muito medo do morrer.
Sofri muito ao ver vovó acompanhada de dores,
aparelhos e tubos enfiaados em seu corpo,
sem que ela nem ninguém, nada pudesse fazer,
porque já não é mais dono de si.
Bom seria se, depois de anunciada, (a morte)
ela acontecesse de forma calma e sem dores,
longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama,
em meio a visões de beleza...
A "Pietà" de Michelangelo, é uma bela forma de representar tudo isso...
A mãe está com Cristo morto nos seus braços.

Nos braços daquela mãe, o morrer
deixa de causar medo.
Concordo com Mário Quintana quando fala assim:

"Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver."

O que sinto é uma enorme tristeza.

A vida humana não se define biologicamente.
Permanecemos humanos enquanto existe em nós
a esperança da beleza e da alegria,
Enfim,

o que fazer se não Amar... e Amarrr? .........

E amo.
Para minha "Vovó ALice"

* 08/01/20
+ 25/07/08

Sinto falta do seu olhar de criança...